Olho à volta e não sinto que faça parte disto. Deste rebanho. Parecem
ovelhas, parecemos ovelhas, vamos todos na mesma direcção, apesar dos
diferentes destinos. Vamos todos de pé, a carruagem cheia e os olhares
tão vazios. Vão todos sozinhos, vamos todos sozinhos, apesar de estarmos
no meio de uma multidão. Apesar de estarmos rodeados de gente sozinha.
A
maioria vai de smartphone nas mãos, que é mais fácil comunicar através
de um écran do que sorrir para quem está ao nosso lado. Auscultadores
enfiados nos ouvidos e assim ninguém mete conversa. Aquele ali pode
estar sentado ao lado da mulher da vida dele, mas é no tinder que
procura o match perfeito.
Abrem-se as portas. Saem em manada. Saímos em
manada. Seguimos pelo mesmo corredor atafulhado de gente, atafulhado de
pessoas sozinhas que seguem num aglomerado populacional que nem permite
ver a cor do chão.
Saio do metro e tenho que parar nas escadas. Já vejo o
céu daqui. Preciso de respirar. Não era aqui que queria estar. Não foi
este o quadro que pintei para o meu futuro. A minha vida adulta não era
desta cor nem tinha este aspecto. Será que tenho que passar por aqui
para lá chegar ou estou a desviar-me completamente da rota? Ainda não
são dez da manhã e em vez de estar no epicentro da confusão deveria
estar a arrumar a mesa do pequeno-almoço que preparei de véspera para os
miúdos.
Tento esconder estas lágrimas por detrás dos óculos de sol,
saco um cigarro que fumo rua acima. Eu não quero ser um deles. Calo o
gemido, lembro-me da força que guardo dentro de mim e avanço. Os passos
pesam-me. Respiro fundo e entro. Para quê?
Adorei, o texto, o blogue. É bom essa observação. Mesmo fazendo parte desse quotidiano quase autómata, é necessário, no mínimo, ter consciência dele. Lucidez acima de tudo, assim aprende-se (vive-se, aprende-se). Há tempos fiquei surpreendida com uma imagem/cartoon, várias pessoas iam no autocarro e todas pensavam que eram as únicas conscientes do cenário geral e olhavam os outros como autómatas. Realmente, isso confundiu-me. Seguimos todos com a manada, parecemos da manada, mas se calhar todos, ou muitos, sentem esse estilo de vida condicionado e condicionante e lidam com isso sozinhos. Parece-me que os seres humanos estão insatisfeitos, parece que seguem algo que eles criaram e que já os ultrapassou, como por exemplo, o ritmo de vida destes tempos modernos.
ResponderEliminarObrigada, Just Fantasy. Fico feliz por saber que gostaste e mais feliz ainda pela partilha desse ponto de vista. Talvez seja mesmo isso e a manada não seja totalmente homogénea e inconsciente... beijinho*
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