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quinta-feira, 16 de maio de 2019

da sombra que cá tenho também

Solange Knowles 
«are you healed or just distracted?»

A questão mais profunda que me chegou nos últimos tempos.
Estás curada ou apenas distraída?
Como se cura a memória que ainda nos enche de fúria?
Como se transforma a raiva que sentimos por alguém em mero desprezo?
Se não for o tempo, o que pode acabar com o que nos fere ainda?
Toda eu sou amor mas ainda me falta transformar essa cólera num sentimento puro.
Em luz, na verdade.
Mas não sei como fazê-lo.
Não sei como deixar de querer espancar aquela pessoa.
Ela roubou-me.
Roubou-me tanto, aquela pessoa.
Tirou-me tanto.
Substituiu-me em lugares meus.
E não tem vergonha nenhuma.
Ainda não lhe descobriram a podridão.
A falta de carácter.
A sujidade que esconde por detrás de uma figura aparentemente inofensiva.
Ainda não foi feita justiça e eu mal posso esperar para vê-la pagar.
E que feio este sentimento para alguém que sempre agiu de forma elevada.
Que estranho sentir isto quando deveria simplesmente estar grata:
por ser diferente
por ser melhor
por ser bonita por dentro
por ter aprendido que nem toda a gente merece o nosso tempo
nem fazer parte do nosso inner circle
nem entrar em nossa casa
ou no nosso mundo.
Nem toda a gente é digna dessa partilha inteira.
Nem toda a gente sabe honrar essa entrega de peito aberto.
Nem toda a gente deveria ter o melhor de mim.
Cada um dá o que tem dentro de si.
Eu dei amor
amizade
compreensão.
Eu dei sorrisos
dei riso
dei abraços.
Dei companheirismo.
Nunca julguei.
Nunca julguei.
Mesmo quando haveria tanto para julgar.
Dei a mão, dei força, dei determinação.
Dei soluções, dei os meus conhecimentos.
Dei possibilidades para uma vida nova.
Dei o que sabia dar.
Em troca, recebi lixo.
Recebi a merda que havia lá dentro.
Recebi traição, intriga, inveja.
Recebi dor.
Recebi drama.
Recebi ciúmes e tretas e fiquei aqui com esta ira.
Uma vontade de agredir.
De destruir as mentiras que lhe servem de alicerce.
Um nojo imenso que escondo.
Escondo atrás de um sorriso falso - quase tão falso como a pessoa.
E não lhe desejo mal.
Desejo justiça.
Porque eu não semeio nada que tema colher.
Então quero que chegue depressa o tempo da sua colheita.
Quero testemunhar, pela primeira vez na vida.
Quero saber, quero ver.
E continuo à espera.

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