quarta-feira, 21 de novembro de 2018

mercúrio retrógrado, dizem eles.

Lana Del Rey
Segunda-feira: andava eu a tratar de coisas interessantes como o envio das leituras dos contadores quando me apercebo de um cheiro intenso a gás no hall dos apartamentos do meu andar. Decido ligar para a assistência. Uma hora depois, tenho um técnico a tocar-me à campainha. Entendo que quer companhia na sua missão e largo o computador e o trabalho pendente durante o que se veio a tornar num longo período de uma hora e meia. Descobrimos que havia mesmo uma fuga de gás no prédio. O gás é imediatamente cortado. Fica tudo sem água quente para tomar banho em pleno Novembro. Volto para o computador e sou interrompida a cada vinte minutos por vizinhos que não se contentaram com o anúncio deixado à porta do edifício nem com as explicações do administrador do condomínio. Queriam ouvir a mesma história contada pela única de duas moradoras jovens (a outra é a minha irmã). É diferente saber dos acontecimentos na primeira pessoa e como fui eu que despoletei o drama, a minha campainha não parou.

Terça-feira: o carro teve de ir para a oficina. Um barulho estranho a cada curva apertada. À tarde, o meu saco com todo o material de costura rebenta em plena estação de metro e espalha-se tudo pelo chão. Ninguém tem o menor gesto de gentileza - houve até quem me chutasse a garrafa de água que rebolava por entre os pés apressados da multidão enquanto eu corria atrás dela. Na aula de costura, alinhavo uma peça com linha dupla e não era suposto tê-lo feito assim. Desfaço. Torno a alinhavar. Vou para a máquina costura e depois de coser durante largos minutos, reparo que não havia qualquer ponto feito. A linha era tão preta como o tecido e não vi que estava apenas a acariciar a máquina. Recomeço. Abandono o atelier no final da aula e tento apanhar um táxi para ir ter com pessoas boas para jantar. Começa a chover violentamente. Tento proteger-me debaixo de um toldo que me tapava meio crânio. A chuva não se decide a diminuir a sua intensidade, então sigo Almirante Reis afora até chegar ao Martim Moniz. Nesse caminho gigantesco, não houve um táxi que parasse. Já irritada, mudo de ideias e sigo rumo a casa. Chego ao prédio e continua a não haver gás. Os meus olhos já não podem rolar mais. Termino a noite a tentar tirar um café. A cápsula rebenta e há café pelo chão, pelo móvel, pelas gavetas. 

Canseira.
A maior das canseiras é obrigar-me a não ceder.
O meu bom humor não pode ser influenciado por estas contrariedades.
Não vai.

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