- Este gajo passa ganda som! - foi exactamente desta forma que as palavras saíram. Com a espontaneidade bruta e crua de quem está absorvido no presente. Aquela noite tinha sido maravilhosa porque as músicas eram perfeitas, umas atrás das outras. Ele adivinhava o que eu queria ouvir e isso é tão, tão raro. Sabem quando nem apetece interromper a música com conversas? Quando nem apetece abrir os olhos? Foi assim enquanto aquele DJ fez da cabine o seu atelier. Não me esqueci do nome dele e nunca mais o vi em lado nenhum. Desencontros.
Anos passaram até que descobrisse e começasse a seguir atentamente um determinado cronista de um jornal nacional, que veio juntar-se aos únicos dois cujos textos não perco, sendo um deles o meu querido MEC. Não leio mais crónicas porque ninguém me prende verdadeiramente, mas aquele fulano, cujo nome não me remetia para referência alguma, emanava uma vibe que me agradou desde o primeiro parágrafo. Lia-o sempre, gostava sempre do conteúdo, da forma e mais tarde, timidamente, comentei-o - algo que nunca gostei particularmente de fazer, nem em blogs.
Passou-se imenso tempo até que concluísse que o tal DJ e o cronista eram a mesma pessoa. E foi inevitável o espanto e a consequente reflexão acerca de como é interessante que o produto daquela mente me atraia, mesmo sem a consciência de que quem está por detrás das músicas escolhidas ou dos caracteres debitados é o mesmo homem. O que aquela pessoa faz chegou até mim sempre de uma maneira bonita e essa coincidência pareceu-me tão curiosa que, incentivada por alguém com quem a partilhei, não resisti: cheia do meu atrevimento, pus o protagonista a par da sua história em mim.
Decidi-o não só porque o elogio é subestimado, como também por saber como é agradável quando me fazem sentir que o que fiz foi bom, que foi entendido e que tocou. Infelizmente, é mais fácil criticar só porque sim ou desvalorizar qualquer forma de expressão que seja díspar da nossa.
E porque a Vida tem especial prazer em surpreender-me, não demorou até que depois desse rasgo de ousadia, tivesse a sorte de me encontrar ao vivo com o DJ que é cronista, por mero acaso e com a certeza de que aquela pessoa é mesmo como a lia: alguém com quem passaria horas à conversa, porque me faz sentir curiosidade. E isso é tão, tão raro.
A minha vida é um aglomerado de acontecimentos aleatórios.
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