Não é falsa humildade nem falsa modéstia. Não se trata sequer de uma vitimização. Apesar de ser uma sonhadora incurável, já perdi tantas vezes que desaprendi a esperança. E já vi perder tantas vezes que só acredito quando tenho na mão. Vi sonhos desmoronarem-se por pequenos desleixos e por excesso de confiança, metas que não foram alcançadas porque no último metro aconteceu algo que roubou o segundo de vitória que já se via tão perto. Já assisti à queda de impérios, à morte de famílias, a reviravoltas assustadoras. Isto da vida é uma barafunda.
No meio de tanta ferida, tanta cicatriz e tanto medo, quando surge uma brisa suave e salgada, com aquele cheiro doce das dunas, obrigando-nos a parar e a sentar, não sabemos o que fazer. Contemplamos. E assim sossegamos. E já sabemos o que vai acontecer. Sabemos tudo, mas não podemos contar a ninguém. Porque quem sabe não somos nós, é o nosso espírito - ele sabe sempre mais do que nós, porque não é toldado pela racionalidade nem pelos sentidos ou pelo conhecimento adquirido através da experiência. O nosso espírito sabe, simplesmente. Intuitivamente.
Então mesmo que queiramos agir contra nós, abrimos os braços e atiramo-nos. Sem pensar muito no que virá depois. Porque o que virá depois não pode ser pior do que aquilo que deixámos para trás.
Traí-me. E eu sei porquê. Para quê.
Obrigada.
(E se a minha escrita for profética, como dizes, que o meu desejo fique aqui gravado nas entrelinhas...)
1 comentário:
autch!!!
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