in·ve·ja |â| ou |ê| ou |âi|
substantivo feminino
1. Desgosto pelo bem alheio.
2. Desejo de possuir o que outro tem (acompanhado de ódio pelo possuidor).
"inveja", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha]
Não tenho em mim aquela semente verde da inveja. Não tenho. Não faz parte de mim. Não compreendo. Não aceito. Não sinto.
Detesto quando começam com a treta da "inveja branca". Inveja é inveja, é mau e acabou. Se se sente, há que suprimi-la. Podemos educar-nos. Como é que se pode dizer "ai que estou aqui roída de inveja branca"? Inveja branca o caraças, pá. Acredito nas energias que emanamos, por isso fico toda acagaçada com essas porcarias. Já sabemos que existe, que até uma pessoa com tudo para ser invejada pode querer o que o outro tem, mesmo que o que o outro tenha seja quase nada. A inveja é sempre fruto de um de cinco factores: fraca auto-estima, complexos de inferioridade atrozes, insatisfação crónica, falta de formação ou pura maldade.
Quando digo que não sinto inveja, não quer dizer que não queira para mim algo que outra pessoa tem. Bom, normalmente, quando quero algo que outra pessoa tenha, quero noutro formato, com características diferentes - desde o carro bonito até ao casamento ou à conta bancária. Até posso precisar de mais dinheiro para o estilo de vida que me parece confortável, mas vivo bem com o que tenho e sei que hei-de lá chegar. Posso querer muito casar, mas não quero aquela relação peganhenta. Posso querer muito um carro tão giro como o daquela gaja, mas não aquele modelo nem aquela cor. Contudo, por mais que alguém perto de mim alcance um determinado objectivo que também espero alcançar futuramente, não vou passar sequer um segundo da minha vida a remoer aquilo amargamente. Porque antes de mais nada, ficarei feliz pela pessoa. E ver que aconteceu noutra existência dá-me ânimo e motivação para acreditar que posso vir a receber o que desejo, porque afinal é possível. Simples.
Apesar de não ser dotada dessa característica desprezível que é ser invejosa, tenho um radar invejável para detectar manifestações desse que é um dos sete pecados mortais. Reparo no olhar de lado para aquele par de sapatos maravilhoso, que resulta num salto partido ao chegar a casa. Na ausência de contenção de raiva quando partilhamos uma boa notícia. Nas palavras que se soltam dos menos cínicos ou dissimulados, que os denunciam: "Só a mim é que não me acontece isso"; "Como é que tens tanta sorte?"; "Tens mais sorte que juízo"; "Porque é que a mim não me cai tudo do céu como a ti?"; "Mas porque é que eu também não tenho isso?"... podia ficar aqui horas a enumerar exemplos ou a relatar episódios.
Não compreendo. Não gosto. Não aceito. Basta isto para que me feche em copas e viva sossegada no meu canto, preferindo que todos acreditem na miserabilidade da minha vidinha vã. Não conto nada a ninguém, não abro brechas para que me atinjam com esses dardos de má onda. E só com o dinheiro na mão é que digo que ganhei a lotaria. A alguns, porque não há cá merdas.
Também não gosto de detetar esse sentimento mas a verdade é uma: é preciso saber viver com pessoas assim, desde que não nos prejudiquem a nós nem aos nossos. Deixarmos de ser como somos ou queremos ser, em função de sentimentos assim, é que não.
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