Só sabem da minha fobia aqueles em quem confio. Não falo dela por ser um assunto sério. Incapacitante, que me fragiliza e expõe como poucas outras questões. A minha fobia descontrola-me. Gela-me. Limita-me. Torna-me inútil. Infantil, até.
É difícil de compreender como é que alguém tão corajoso e forte perde a sanidade tão facilmente perante algo tão pequeno e irrelevante para a maior parte das pessoas. Mas é mesmo isso: tolda-me, anula-me a razão. Perco as estribeiras. Não consigo reagir.
Já tive várias situações de perigo por causa disto. Quase-acidentes de carro, por exemplo. E depois há as situações absurdas, de tão incómodas - esta semana passei uma noite em claro e algumas das horas desse período, de pé, no centro da sala. Não dormi. Não chorei. Bloqueei. Fiquei ali, de pé, durante mais de 120 minutos, à espera que finalmente chegasse o dia. Pensei ir para o carro dormir, mas não consegui.
Porque quem tem uma fobia não consegue nada. Não consegue agir, nem ter coragem nem ser melhor que aquilo. E sabemos que estamos a ser irracionais e estúpidos por não resolver o problema como a maioria da população mundial. Sentimo-nos uma merda porque não controlamos as nossas reacções e damos por nós a pensar que talvez nunca consigamos viver sozinhos porque a fobia não é de elefantes, é de uma coisa que pode aparecer em nossa casa. Não há problema em ser-se europeu e ter-se pavor de leões. Ninguém critica alguém que tenha medo de girafas. Mas há fobias de coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia. E sempre que penso em recorrer a um terapeuta para dar cabo disto, recuo quando me ocorre que a certa altura do processo, terei invariavelmente que ser confrontada com o objecto do meu medo. E eu não consigo.
E por não conseguir, depois de uma crise como a que tive ontem à noite, fico mesmo triste comigo. Sinto-me a Ana de quatro anos a desiludir o mundo por não conseguir levar a cabo um gesto tão simples.
Ao mesmo tempo, irrito-me quando me dizem que tenho de controlar o medo. Que tenho de me acalmar. Que são coisas da minha cabeça. Que aquilo não me faz mal nenhum. Como se por ouvir essas verdades tão fáceis, o meu cérebro decidisse comandar o meu corpo até um qualquer estado de paz absoluta. Meus queridos, a coisa não funciona assim, com muita pena minha. Ou acreditam mesmo que alguém gosta de se sentir louca e ridícula perante algo insignificante depois de ter sido, em tantos episódios dramáticos ao longo da vida, uma fortaleza?
É por isso, pelas piadas parvas, pelas gracinhas e partidas de quem não tem a mínima noção do que é viver com uma fobia, que não falo da minha a ninguém que não mereça a minha confiança.
Só sabem desta minha fragilidade aqueles que sem julgar, me defendem dessa reacção exacerbada, acalmando-me, ajudando-me, protegendo-me. Porque tal como eu, sabem que é irracional e, portanto, incontrolável.
1 comentário:
Acho alguma piada a gente que perante uma depressão, uma síndrome de ansiedade, ou até uma fobia diz aos outros que se têm que controlar... Faz parte da definição destas coisas serem efetivamente incontroláveis. Mais empatia e gentileza, por favor...
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