quinta-feira, 17 de abril de 2014

«emprenhar pelos ouvidos»

Barbara Palvin
Nunca gostei de pessoas que emprenham pelos ouvidos. Revelam pouca inteligência, falta de discernimento e de personalidade, uma certa incapacidade de pensar por si só e uma grande facilidade em ser influenciado por mexericos, boatos, intrigas, ou seja, histórias sem fundamento real. Quem acredita no que lhe contam, sem ver nem ouvir directamente da fonte, por portas travessas e sem presenciar o momento que se tornou caso, só porque sim, de um modo leviano, não merece crédito da minha parte. É como se a profissão fosse intrínseca à minha maneira de ser e por isso não me esqueça de que nunca existe apenas uma versão dos factos.
Contudo, sei que depois de tanto ouvir a mesma coisa acerca da mesma pessoa, é como se aquilo se tornasse verdade. Passa-se comigo. Existe uma personagem minha que me transcende e poucos têm acesso à verdadeira Menina. Às vezes incomoda, outras vezes cansa. Há momentos em que me é útil, outros em que me protege e resguarda. Mas não é um retrato fiel daquilo que sou, de todo.
Sabendo de tudo isto, seria normal que eu mesma não emprenhasse pelos ouvidos, mas como água mole em pedra dura, espeto de pau, chego a ceder, ainda que por breves instantes, à pré-concepção que se criou acerca de quem não me deu um único motivo para desconfiar da sua honestidade. Nem sempre é fácil manter a armadura bem colocada em nosso redor, para não permitir que vícios alheios penetrem na nossa conduta.

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