terça-feira, 29 de abril de 2014

«A saudade define a certeza»

Kate Moss
Sabia que só teria noção da falta que me tinha feito quando voltasse. Quando a cidade ficasse mais bonita por aquela presença fazer parte da paisagem. Quando o risco de nos cruzarmos sem querer existisse outra vez. Sabia que não teria muito para dizer, até porque não poderia dizer tudo. Sabia que os meus sentidos iam absorver tudo com sofreguidão, como se até então tivessem sido privados de qualquer fonte de vitalidade. Sabia que não quereria espaço entre o fim de mim e o início dessa outra entidade. Sabia tudo e não podia ter dito que sabia.
Quando escrevemos, as palavras cumprem-se. Talvez não se cumpram, talvez escrevamos ainda sem saber que estamos, no fundo, a profetizar. Escrevo o que ainda não sei, mas escrevo o que vai acontecer. Escreve-se sozinho, o texto. Escreve-se sozinha, a vida. E eu sigo o caminho, desconfiada do que vai acontecer mas deixando-me atordoar pelos medos e inseguranças a que a condição humana me submete.
Sei como vai correr. Sei que vai ser difícil, que me vou sentir vulnerável mais vezes do que gostaria, sei que me vou sentir frágil e exposta, mas também sei que isso não me vai impedir de fazer o que quero. E sei que os sentimentos, como as plantas, vão crescer, porque é Primavera. Com eles, desabrochará também o entrosamento, como as flores, porque é Primavera. Sei que vai ser tarde demais quando quiser travar isto tudo. Estaremos no auge do Verão. E sei que me vou sentir bem com tanto calor, porque as coisas acontecem quando devem acontecer e as estações do ano seguem-se umas atrás das outras, com ordem, porque tem de ser. Começamos sempre como estranhos, até que o companheirismo nos prende, a amizade nos liberta, as borboletas nos fazem sentir vivos, o riso vicia e o medo nos empurra para o vazio. Damos as mãos e seguimos, já sei como é.

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