terça-feira, 22 de abril de 2014

A novidade do arrependimento

Leona Lewis
«Prefiro arrepender-me do que faço do que daquilo que não cheguei a fazer.» A frase é minha. Repito-a vezes sem conta e acredito nela de todo o coração. Tenho a sensação de que além daqueles arrependimentos que sentimos enquanto crianças, depois de ter riscado a parede inteira do corredor lá de casa e de ter ouvido do pai e da mãe, nunca tinha experienciado essa angústia da culpa. Vivi os últimos 28 anos sem saber como era a dor de não poder reparar o passado porque sempre justifiquei bem as minhas atitudes incompreendidas ou mal interpretadas. Sempre soube que se tinha feito ou dito algo, a verdade é que havia uma razão para isso. Um motivo. Fosse qual fosse, existia. Logo, não havia espaço para arrependimentos. Se fiz, foi porque naquele momento quis fazer. Se disse, foi porque naquele momento quis dizer. E não estou habituada a não ter razão. Sempre me senti o pólo maduro das minhas relações, independentemente das idades deles. É muito estranho não ser a sensata, a adulta. É muito difícil sentir que o outro puxa por mim. É preciso um esforço da minha parte para não me deixar cair na infantilidade, nem que seja para não me sentir novamente como me senti, pela primeira vez: arrependida. Pequena. Minúscula. Envergonhada. Cabisbaixa. Culpada. A sensação de ridículo foi piorando à medida que, em resposta à minha postura de menina tonta, ia recebendo palavras carinhosas, gestos bonitos, atitudes elevadas. E assim diminui o eu em mim e aumenta o outro dentro do peito. Mas isso ninguém tem de saber.

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