quinta-feira, 20 de março de 2014

das coisas que vou vendo

Kate Moss
Quando não é por dinheiro, foi uma traição - ou várias e a descoberta de uma delas - que levou o casamento ao fim. Divórcios há muitos, casais e pessoas também, mas há uma conduta que revejo em todas as situações do género. Somos todos humanos e há aspectos inerentes a esta condição de se ser. Independentemente do que o homem tenha feito (ou deixado de fazer) para tornar a esposa numa mulher insatisfeita com o seu matrimónio, a verdade é que elas se tornam nas megeras com uma facilidade impressionante. Conheci muito poucas capazes da proeza de contornar o estereótipo da ex malévola, uma vez que a maioria se deixa levar pela amargura e cede à resposta torta, à resmunguice constante e ao azedume de não se privar da inconveniência, apontando defeitos sem conta, como num bombardeamento sem regra em que o que conta é atingir o outro. Tudo no marido passa a ser mau, como se não conhecessem a pessoa com quem se casaram: é um irresponsável porque se atrasou dez minutos no banho no dia em que há almoço em casa dos sogros, é um porco porque não limpou as migalhas do sofá, um desarrumado porque atirou o casaco para uma cadeira da sala de jantar, um desleixado porque ainda não arranjou aquela prateleira caída, um forreta porque não compra um presente há séculos, um mal criado porque retorquiu quando o chamaram à atenção porque não baixou a tampa da retrete, um inconsequente porque gastou dinheiro dele, ganho por ele, com o trabalho dele, numa compra com que não concordaram, um preguiçoso porque quer descansar. O fosso abre-se e eles já só vêem nelas as chatas, sempre trombudas, que não se divertem como antes e que não valorizam tudo o que são ou fazem: elas queixam-se do excesso de tempo que dedicam ao trabalho, em vez de apreciar o espírito de sacrifício do pai de família, que às tantas já usa o emprego como desculpa e abdica de um serão caseiro só para não ter que ir para casa aturar o mau feitio dela. O triste é que na maior parte das vezes, a cratera entre os dois torna-se num abismo colossal, humanamente impossível de ultrapassar quando se chega ao ponto em que o que sobrou do romance foram cinzas.
Depois de reconhecida a impossibilidade de levar avante uma união em que a palavra perdeu o sentido, desfazem-se os laços. Abre-se mão de um futuro com aquele parceiro, até aparecer outro que engane tão bem ou melhor que o primeiro. E para esse, a mulher será tão ou mais interessante que da última vez. E depois é ter fé para que o jogo não se repita, para que ela não encarne outra vez a bruxa malvada e para que ele não se torne no ex.

Sem comentários: