terça-feira, 11 de março de 2014

Confiar

Anja Rubik
Sou assim, extremamente desconfiada. Tenho grandes dificuldades em acreditar nas pessoas, em dar-me sem receios. Acho que tenho um distúrbio, um excesso de cinismo que me aproxima da paranóia e que me faz criar verdadeiras teorias da conspiração. Na verdade, acredito mesmo que a maior das teorias da conspiração é aquela que diz que não existem teorias da conspiração. Então dou por mim a fazer filmes do caraças, enredos mirabolantes em que a vítima - eu - está no centro de uma teia macabra. Tenho que fazer um esforço hercúleo para me refrear e abrandar essa ideia de que todo o mundo se une contra mim, num jogo de segredos cujo objectivo é colocar-me numa posição frágil. É que passamos a vida a ouvir dizer que os vilões não existem só nas novelas e uma pessoa depois fica neste estado. Ou então não, talvez seja fruto daquele trauma de infância que a psicóloga descobriu em mim, quando tinha 19 anos. Ou talvez seja apenas produto das sucessivas desilusões com que vou sendo confrontada. É, deve ser tudo isso. E depois paga o justo pelo pecador.

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