sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A propósito do 14 de Fevereiro...

Drew Barrymore
O mais marcante Dia dos Namorados que vivi foi o primeiro que passei com namorado. Óbvio. Perdoem-me todos os outros, mas o primeiro foi mágico e inesquecível. Eu, que sempre achei a data uma piroseira, adorei. Pela primeira vez, fazia sentido comemorá-la, já que não se resumia à recepção de inúmeras cartas e bilhetinhos anónimos na escola. Toda eu era felicidade. Cedi ao romantismo pegajoso, deixei-me levar pelo cliché e confesso, fui feliz. Tão feliz. Demasiado feliz. Insuportavelmente feliz. Choviam estrelinhas à minha volta, o coração não cabia dentro do peito, a cabeça estava nas nuvens e todo o meu corpo era electricidade. Tinha 15 ou 16 anos, ele 21 ou 22. Era O Amor da Minha Vida, aquele que tinha feito nascer em mim o sentimento mais arrebatador e apaixonante que uma adolescente pode experienciar. Foi um daqueles amores que vemos nos filmes, que são como os raios, fulminantes e certeiros: nunca caem duas vezes no mesmo sítio (até que caiam). Às vezes, só às vezes, há em mim uma certa pena por saber que nunca mais me vou sentir plenamente embebida nesse melaço viciante. Já não vou querer agradar, surpreender ou fazer de um homem o mais feliz do mundo. O meu maior sonho era casar. Mas casar com ele. Não era apenas na festa, no vestido ou na expressão dele à minha espera no altar que pensava. Era nas banalidades do quotidiano. Queria, depois de um dia de trabalho, abrir-lhe a porta de nossa casa, bonita e arranjada, dizer-lhe que fosse relaxar na banheira já preparada para o receber, enquanto terminava o jantar que tinha estado a fazer para os dois. Queria ser a esposa que o mimava, que o adormecia com massagens e festinhas no cabelo. Queria ser a mulher que fazia uns petiscos para que ele e os amigos vissem o jogo em nossa casa enquanto eu ia às compras com a minha irmã. Queria ser a mãe dos filhos dele, a nora dos pais dele, a cunhada da irmã dele. Queria tudo, a vida toda, ser a fonte de felicidade e o porto de abrigo, numa dádiva contínua, num amor à antiga, incondicional, foleiro e um pouco machista, convenhamos.
Já não encontro em mim essa ingenuidade que permite a pureza da entrega total, inteira e inconsequente. Os anos tornam-nos exigentes, dotam-nos de um cinismo incontornável e a experiência ensina-nos a fazer uso de escudos e de muralhas para nos protegermos. É como se não houvesse tanto altruísmo nem tanta coragem e inconsciência para que nos atiremos, livres, respondendo ao sedutor apelo do abismo. Amei-o mais que a mim mesma numa relação tão doce como louca e violenta, tão áspera como aconchegante. Há quem passe a vida inteira à procura de algo assim. Há quem desapareça do planeta sem ter vivido algo assim.
Jantámos o nosso bife preferido no restaurante onde mais gostávamos de ir. Eu a princesa, ele o homem dos meus sonhos, alto, lindo e másculo. O meu Mr. Big, estão a ver? Nesse dia 14 de Fevereiro de há mais de dez anos, achei-o mais bonito do que sempre achara. Estava mesmo lindo, todo homenzinho, muito aprumado, o cabelo impecavelmente cortado, o blazer e o mocassin. Conversávamos imenso, ríamos ainda mais. E os olhares eram tão intensos que quando me tocava na mão podia senti-lo acariciar-me a alma. É que o tempo passava a correr quando estávamos juntos. Nessa noite, levou-me a Coimbra para tomar café. Podia apostar que a caminho ouvimos Wonderful Tonight, pelo Eric Clapton. Lembro-me como se tivesse sido ontem: fomos às Galerias, em Santa Clara, lugar que ainda tenho como especial. Claro que celebrámos o Dia de S. Valentim com os habituais presentes: ofereci-lhe um livro que sabia que ele queria - O Homem Que Mordeu o Cão, com CD ou DVD, já não me recordo... Por sua vez, ele ofereceu-me uma almofada vermelha, com um coração, só para me assustar. Depois estendeu-me flores e um embrulho - uns brincos que adorei e que guardo com carinho. Sabem, o importante não foram os presentes que trocámos, mas o facto de termos pensado no que o outro gostaria de receber. E de repente, estou a escrever-vos com um sorriso tão nostálgico que devia ir dizer-lhe o quanto me fez feliz, o quanto ainda me sinto feliz com a ternura do que vivemos.

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