segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Segundas-feiras

Gabriela Bertante
Falamos mal de todas as segundas-feiras. Como se o primeiro dia útil fosse um mal necessário, uma dor inevitável, um martírio. De cada vez que falamos mal das segundas-feiras, mostramos ingratidão pelo facto de estarmos vivos. Negligenciamos a bênção que é respirar. Cada segunda-feira de trabalho é um dia em que temos o privilégio de olhar para o espelho e admirar o corpo que se mexe, o coração que bate, o sangue que pulsa, o ar que expiramos, os olhos que brilham, o sorriso que oferecemos aos que amamos. Pode ser um frete isto do fim-de-semana não ter mais que dois dias, mas seria um frete muito maior não estar cá. Não beber um fino ao final da tarde com aquela amiga. Não estar cá para abraçar a Mana Lamparina quando as angústias lhe humedecem os olhos. Não poder aproveitar o abraço do meu pai. Não ter a mão da minha mãe para apertar. Não ter a amiga do coração à distância de um telefonema. Não ser amada. Não amar. Não ouvir as gargalhadas dos meus amigos. Não sentir aquela saudade. Não ser assolada por uma qualquer ansiedade parva. Não ver as pessoas bonitas com quem me vou cruzando. Não aprender nada. Não ter futuro.
Esta segunda-feira, há quem chore a dor de ter perdido alguém. Há quem se sinta dividido entre o alívio de terminar um sofrimento e a saudade da partida. Então chega de maldizer a segunda-feira. A partir de agora, vou encarar cada uma delas como uma página em branco, uma oportunidade nova, um início de mais cinco dias em que posso fazer alguma coisa inédita, boa, feliz. Nem que isso seja apenas encontrar um dono para um animal abandonado, ouvir um desabafo, mimar um coração triste.

1 comentário:

Tamborim Zim disse...

Muito, muito sábio. Muito, muito verdadeiro, querida Lamparina. Beijinhos, e espero tb lembrar-me dessas palavras na próxima segunda laboral...Q n será p a semana pq já estarei de férias :)