quarta-feira, 12 de junho de 2013

Onze de Junho de 2013

Este dia ficará gravado para sempre, enquanto o sempre existir, como o dia em que nasceste. É o teu dia, aquele que todos os anos será celebrado por ti e para ti. Vais ouvir-me cantar "este é o teu dia, que dia mais feliiiz" até que a voz me doa, que deve ser mais ou menos na altura em que a tua ajuda se tornará necessária para que consiga atravessar a estrada, quando precisar de uma bengala para andar. Ou então não, que a velhice não me atrai particularmente. E todos os anos ouvirás as mesmas histórias, à mesma hora. Que a mãe não conseguia dormir, que às seis da manhã foram para Coimbra porque tinha finalmente chegado o momento. Que depois de te decidires a sair da barriga dela, eu recebi uma mensagem: "Já temos Manel!". E que desatei a chorar porque coloriste o meu dia, mesmo sem saberes da minha existência. Que eu estava a fechar uma edição do jornal e fiquei atarantada, sem saber o que fazer nem para onde ir. E que liguei para o teu pai, que comovido, me ouviu gaguejar e choramingar enquanto lhe dava os parabéns entre gritinhos histéricos. Estávamos à tua espera, Manel.
No momento em que este texto aparecer no meu blog, estarei a caminho da maternidade para te ver pela primeira vez. Parece mentira que a tua mãe já seja mãe. Vais fartar-te de ouvir as nossas conversas da treta, porque ainda as temos e vamos continuar a perder tempo com elas, mesmo que o tempo nos transfigure. Somos assim, adultas mas meninas.
Vou ver-te com a minha Mana, que nasceu no dia 10, há dezassete anos. Por pouco não partilharam o dia, este que fica gravado para sempre, enquanto o sempre existir, como o dia em que nascemos. Apesar de ter sido há algum tempo, lembro-me daquele em que a minha irmã nasceu como se tivesse sido ontem. Da sensação de conhecê-la depois de nove meses escondida no meio da nossa mãe. De a pegar ao colo, a medo. De saber que a amava ainda antes de ela saber o meu nome. De ter imensas perguntas, curiosidades simples como os traços de personalidade que se revelariam naquele ser tão pequeno, que relação viríamos a ter, como seria a sua voz, entre tantas outras. Quando te pegar ao colo, vou querer saber em que pessoa te tornarás. Tu, que não fazes ideia do mundo para onde vieste. Isto não é um planeta para meninos, há muitas coisas duras, feias, más. E muito mais coisas bonitas, delicadas, boas. São essas que valem a pena - e tu és uma delas.
Que a tua passagem por cá seja feliz. Que colhas bons frutos do que semeares ao longo do caminho. Que enchas a casa com o teu riso e as vidas dos teus pais de amor e orgulho. Que descubras as coisas simples sempre com o mesmo entusiasmo, que te divirtas, que a vida te presenteie todos os dias com luz, que ames muito.
Sejas bem-vindo, Manel.

1 comentário:

Paula Sofia Luz disse...

Sabes Ana, os filhos das nossas amigas acaba por ser também um bocadinho nossos, para sempre. É uma coisa muito engraçada, essa. E depois acabam por ser amigos dos nossos filhos e há uma cumplicidade que nos comove. Como este teu maravilhoso texto. Beijo, querida.