sexta-feira, 24 de maio de 2013

da Conquista.

Jennifer Aniston
Talvez o problema seja sonhar demais. Não que tenha objectivos surreais, não que aspire a uma qualquer utopia ou que queira tudo sem fazer nada por isso. Ela tem os pés bem assentes no chão, é uma miúda terra-a-terra, daquelas certinhas que acabam o curso, trabalham que se fartam e vivem de objectivo em objectivo. Não acredita em príncipes encantados nem nada. Mas faz muitos filmes. Não pode ficar um minuto sozinha - começa logo a rodar a bobine. Escolhe o cenário, que os protagonistas não requerem selecção porque são sempre os mesmos e a imagina a acção, que decorre segundo os seus desejos. Diria até que é assim que descobre os seus anseios. É assim que descobre o que quer. E não quer só o beijo, o toque e a pele. Ela quer conversar e nós sabemos que quando uma mulher se põe com as tretas da conversa, o caso ganha gravidade. E uma conversa não chega, queremos mais. Falar mais, saber mais, dar mais. Até absorver a identidade do outro e saber desvendar-lhe o próximo passo. Queremos aquela química especial que nos permite interpretar cada esgar, cada trejeito, cada vinco expressivo na testa. Queremos fechar os olhos e conseguir contar-lhe os poros só de memória. Eu sei como é. Saber-lhe o corpo e o ser. Entrar nele e entranhar-se nele, não é? E quando estamos nessa fase, que pode até durar o mesmo tempo que a relação inteira, queremos agradar. Mesmo que não abdiquemos da nossa personalidade. Queremos agradar para conquistar o amor dele porque queremos ser amadas. E para isso, não podemos estar só giras. Temos que estar estilo modelo da Victoria's Secret: um arraso, uma bomba, o arquétipo da sensualidade e da beleza. O cabelo, a maquilhagem, a roupa, as unhas, a depilação, os sapatos, os acessórios, a lingerie, o perfume - é melhor levá-lo na mala. É também nessa fase que além de mostrar tudo o que somos de óptimo, também queremos impressioná-lo com as nossas capacidades. A mulher actual, que lê as Máximas e as Activas desta vida não é menos que um melting pot de skills. Além de estar sempre super actualizada em relação a tudo o que existe no planeta - gadgets, carros, moda, música, notícias, o vídeo que acabou de atingir 5k de visitas no youtube, regimes alimentares novos, política nacional, política internacional, cosmética, ciência, redes sociais (ai peraí deixa-me tirar uma foto a esta parede para pôr no Insta), o criador que está na berra, os restaurantes mais badalados, a bebida tendência - ainda sabe fazer montes de coisas incríveis - cozinhar como a avó e também como um concorrente do MasterChef, saltar de pára-quedas, ser um ás no snowboard, usar a Bimby, fazer sushi, escrever um blog interessantíssimo (not!), bordar toalhas de mesa, fazer tricot, dançar montes de estilos, ser voluntária em qualquer cena bacana, fazer Pilates, tocar piano e falar cinco línguas fluentemente (sendo que quatro delas são o Português, o Português do Brasil, um desenrascanço em Espanholês e bonjour je m'appelle Alice em Francês). Nesta fase, os defeitos dele tornam-no interessante, porque são essas particularidades que o tornam único e especial. Adoramos a barriguinha dele, a barba por fazer, as maminhas dele, as rugas de expressão, a intelectualidade dos óculos, o ar sisudo ou a mania de se rir por tudo e por nada. Se tivermos azar e a fase acabar, já se sabe: quando der por ela, o gajo já está inscrito no ginásio e a correr todas as manhãs para ficar igual ao modelo que ganhou o Globo de Ouro, cujas fotos colámos na porta do frigorífico para o motivar, voltou ao ar imberbe, está complexado com as maminhas porque acordou com um soutien 32 copa A vestido, não larga os cremes que lhe impingimos para acabar com as malditas rugas que o fazem parecer velho e cansado, usa lentes de contacto porque o nerd já não lhe cai bem e não sabe se há-de rir ou de chorar, porque nós implicamos com ele anyway. Mas enquanto durar, é giro. Gosto de ver as meninas empenhadas, passando horas em frente ao fogão para lhes preparar os bifinhos com cogumelos e o arrozinho de que ele tanto gosta. Sem salada, que ele não liga (até a fase passar e o entupirem com legumes porque é mais saudável e para ficar como o modelo que ganhou os Globos de Ouro ou acham que ele come arroz?). O vinho verde que há-de ajudar a aquecer os ânimos arrefece no congelador, de entrada um patê e umas tostinhas (bué hidratos de carbono), depois vão-se embonecar. E quando ele chegar, vai sentir-se um príncipe. Ou um homem feliz, que tem à sua espera a mulher mais linda do mundo que ainda por cima consegue conquistá-lo pelo estômago. E com sorte até traz flores. E chocolates. Depois, quando a fase passar, mandam vir com ele à bruta porque só vos quer engordar e assim não dá, ele devia era ser um companheirão e apoiar-vos na dieta que daqui a nada é Verão. Mas o que é bom é que a fase não passe e que amem assim, com tudo o que o outro traz na bagagem. Esse amor cego, apaixonado e livre, que vos prende um ao outro. Que faz com que no sorriso dele obtenham o vosso. Esse amor empenhado, cheio de vontade de agradar, de dar, de fazer feliz. E que a fase não acabe nunca.

2 comentários:

Peppy Miller disse...

Fogo. essa minha fase acabou cedo de mais .

Lady Lamp disse...

Há-de voltar. Volta sempre. :)*