terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

«Tudo o que faço é marcado pelo desejo de ser útil aos outros.»

Alicia Keys
«A vida deve estar a treinar-te para liderar o Mundo num ataque alienígena», diz ele. Eu rio-me, porque só ele me diz as coisas dessa maneira. É que dentro de mim há sempre preocupações com acontecimentos bizarros à minha volta. Há sempre algo que me deixa ansiosa, há sempre alguém para ajudar, há sempre uma injustiça que me faz ferver o sangue. Entre os amigos e a família, há sempre quem esteja em apuros - o coração dói, a saúde foge, a família causa transtornos, o trabalho traz complicações ou a solidão aperta. E eu não consigo ficar descansada por entre os meus afazeres: tenho que telefonar, ir, socorrer, apoiar, desenrascar, resolver, ajudar fazendo o que me for possível para salvar alguém. Na verdade, sempre tive um quê de justiceira e defensora dos fracos e oprimidos e fico feliz por ser útil. Lembro-me que a frase que mais marcou a minha infância foi de Rómulo de Carvalho (vulgo António Gedeão), imortalizada numa entrevista: «Tudo o que faço é marcado pelo desejo de ser útil aos outros». Tocou-me porque me revi na atitude do poeta que mais admirava na altura, pois fora ele o autor da Pedra Filosofal, cuja versão musicada era cantarolada pelo meu pai quando me ia dar o beijinho de boa noite. Até agora, tenho cumprido esta premissa, tenho tentado fazê-lo dentro do que me é permitido. E gosto que os outros tenham em mim o pilar, a amiga, a companheira de luta, a fortaleza, a confidente. Não me incomoda que me procurem, não me custa dedicar-me. No entanto, tenho plena consciência de que as pessoas mais autónomas e independentes tendem a ser esquecidas. É fácil que não se lembrem de que às vezes também precisamos de um ombro, um colo, uma ajuda. Há alguns meses, uma amiga daquelas de quem nos tornamos amigas assim que nos conhecemos, disse-me isto mesmo e eu presumo que ela não saiba como me aqueceu o coração quando se ofereceu para tomar conta de mim de vez em quando. Tão doce e maternal, o altruísmo expresso em frases genuínas comoveu-me. Às vezes acho que ela não sabe como é especial para mim. Porque neste caso em particular, não costumo socorrê-la, mas ela a mim.

1 comentário:

Imperatriz Sissi disse...

É verdade, e creio que já tivemos esta conversa uma vez: quem é forte parece sempre invencível, que nunca precisa de nada. Faz bem ter colos onde possamos desabar! Beijinho.