Margherita Missoni |
Sei que as coisas não são assim, sei que as famílias nem sempre têm como tomar conta dos seus velhotes, sei que há doenças complicadas associadas ao avançar da idade e sei que muitas vezes eles gostam dos lares que passam a ser a sua casa.
As minhas duas bffs têm avós em lares e a decisão não foi tomada de ânimo leve porque as famílias não queriam saber deles, mas sim porque não havia uma melhor alternativa. Ambos estão bem e uma delas até se diverte com as peripécias que acontecem sempre que vai visitar o avô.
Aquela a quem me refiro sempre como Vó e sobre quem já escrevi algumas vezes por aqui, morreu com 110 anos. Na verdade, é minha bisavó. Nunca esteve num lar, mas foi preciso montar uma verdadeira enfermaria no quarto dela para que continuasse a viver em casa com alguma qualidade.
A minha outra avó de que vos falei neste post vai ter que ir para um lar. E eu não consigo conter as lágrimas quando penso nisso. É que apesar da degradação a que vou assistindo sem poder fazer grande coisa, ela continua a ser a avó que fazia tricot, que pintava telas lindas, que me fez a Hanna, uma boneca que ainda hoje está em cima da cómoda do meu quarto. Ela coçava-me as costas e dava-me colo, fazia maionese caseira e namorava com o meu avô. Eles levaram-me ao Aquário Vasco da Gama pela primeira vez. E agora, ela está tão velhinha, tão incapaz de viver sozinha, que vai ter que deixar a sua casa. Cria problemas, não abre a porta às senhoras que vão tomar conta dela durante o dia, não colabora, recusa-se a ser ajudada nas tarefas mais simples como tomar banho. Parece uma criança, só quer comer tostas e beber Coca-Cola. O seu péssimo temperamento não nos permite ponderar trazê-la para junto de nós, até porque ela rejeita essa possibilidade. O mais surpreendente é que a minha avó não parece repudiar a ideia de ir para um lar.
Como é possível que alguém que lia tanto e que sabia tantas coisas se torne de repente numa pessoa completamente diferente?
Como é possível que uns partam tão jovens e outros percam qualidade de vida e se arrastem por aqui à espera de partir? E ela já queria ter ido embora antes, que viver sem o meu avô nunca lhe agradou.
2 comentários:
Não sou a maior fã de lares. Sou, sim, daqueles em que os idosos são extremamente bem tratados e têm tudo a que têm direito (há poucos assim, mas ainda há, valha-nos isso!). Agora, detesto aqueles lares em que as condições são mínimas, entramos e é um cheiro a xixi terrível e os velhinhos andam lá a arrastar-se! Ou se proporciona o que eles merecem ou mais vale fechar o lar! Mas isto sou eu!
Querida Ana,
Se te consolar, existem lares que são verdadeiros Lares (no sentido de home sweet home) para quem lá está. as condições são excelentes e por vezes, acabam por ter mais amizades, divertimentos e ocupações do que sozinhos nas suas casas a ver TV. São lares que acabam por diversas actividades e ateliers para quem lá está. Neste sentido, até é um alívio para a família saber que estão bem. conheço inclusive um local onde até é permitido que seja levada a mobília do próprio (e tem quartos de casal, para os casais!) para se sentir ainda mais em casa. Tenho a certeza que a tua família vai ter o cuidado de escolher um local assim e, quando não estiveres com ela, sabes que vai estar feliz, ou pelo menos acompanhada e segura.
Um beijinho,
Filipa
www.welc-home.blogspot.pt
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