Foi exactamente nesta altura do ano passado que passei a integrar a Comissão Local de um projecto que me marcou profundamente. Lembram-se do Um Dia Pela Vida? Sabia que o cancro não era a minha causa, porque o medo sempre me afastou de grandes conversas sobre o assunto. A minha família já tinha sido assustada vezes demais pela sombra dessa doença cujo nome nem gostamos de pronunciar, mas não consegui negar. Fui, fiz, dei de mim, dei-me a mim, tentei matar o medo, desmistificar, acabar com fantasmas. E depois? E depois terminei o ano com a prova de que não vale a pena não temer. Fui ensinada e percebi: de facto, não há como controlar o que tem de ser. Nem com todo o apoio e toda a esperança, nem com toda a solidariedade, nem com toda a divulgação, nem com o dinheiro necessário conseguimos salvar uma vida.
E enquanto a cerimónia fúnebre decorria, senti cá dentro a certeza de que hoje não seria capaz de me envolver tanto numa iniciativa como aquela. Aliás, não seria capaz de me envolver. Fiquei com a sensação de que talvez não valha a pena. Dinheiro é só dinheiro, vontade é só querer e esperança é o sonho. Na realidade, os desígnios de Deus é que contam. E a prova disso é que tenho uma avó com mais de 80 anos que sobreviveu a um cancro e a mais de 13 cirurgias, algumas delas muito complicadas, enquanto que o Ricardo, jovem e saudável, foi de repente, sem que nada o fizesse prever. O cancro apoderou-se dele e não deixou sequer que tentasse lutar.
Não me entendam mal, não me arrependo minimamente de ter feito parte de um projecto tão maravilhoso, mas até que ponto vale a pena? Até que ponto se pode prevenir o que está escrito? Até que ponto podemos evitar o inevitável? Não será um pouco megalómano acreditar que podemos fazer a diferença? Somos grãos de areia no meio disto tudo. Pó ao vento. Nada.
5 comentários:
Esse dinheiro há-de ajudar muita gente e salvá-la. Quanto ao lutar por uma cura... Acho que devemos ir sempre ao limite e fazer de tudo.. Vocês tiveram a melhor atitude. A vossa força, fez a diferença nos últimos dias do teu familiar. Foi em paz com o amor que lhe deram. Acho que disto podes fazer uma mensagem de encorajamento a todos. Há que lutar sempre sem pensar no resultado do desfecho final. A esperança é a última a morrer.
<3
Beijinhos
Temos de continuar a tentar por isso todo o esforço vale a pena.
Beijinhos grandes.
Aninhas... valeu e vale sempre a pena! E se hoje eu te convidasse outra vez para algo do genero...tu aceitavas. Abraço apertadinho!
Foi quando prometemos "não parar até encontrar a cura". <3
Nem mais Paula Sofia...prometemos nao parar.
Embora eu perceba a Ana, quando perdemos alguem que amamos nas circunstancias que foram...
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