quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Espero que esta seja a última vez que se fala deste assunto neste blog.

Fiz o apelo aqui no lamparina, ainda com esperança. Contei-vos que as coisas não tinham acontecido como eu queria logo depois do Natal. Hoje, passado mais de um mês desde aquela tarde na Basílica da Estrela, quero agradecer-vos uma última vez pela solidariedade que demonstraram. E quero que saibam que, tal como o meu tio Ricardo desejou em vida, todo o dinheiro que não foi utilizado nos seus tratamentos foi doado ao IPO de Lisboa. O valor entregue superou os 30 mil euros, como podem ver na imagem abaixo. Este donativo vai ser utilizado em benefício dos doentes que precisam como ele precisou...


Foi exactamente nesta altura do ano passado que passei a integrar a Comissão Local de um projecto que me marcou profundamente. Lembram-se do Um Dia Pela Vida? Sabia que o cancro não era a minha causa, porque o medo sempre me afastou de grandes conversas sobre o assunto. A minha família já tinha sido assustada vezes demais pela sombra dessa doença cujo nome nem gostamos de pronunciar, mas não consegui negar. Fui, fiz, dei de mim, dei-me a mim, tentei matar o medo, desmistificar, acabar com fantasmas. E depois? E depois terminei o ano com a prova de que não vale a pena não temer. Fui ensinada e percebi: de facto, não há como controlar o que tem de ser. Nem com todo o apoio e toda a esperança, nem com toda a solidariedade, nem com toda a divulgação, nem com o dinheiro necessário conseguimos salvar uma vida. 
E enquanto a cerimónia fúnebre decorria, senti cá dentro a certeza de que hoje não seria capaz de me envolver tanto numa iniciativa como aquela. Aliás, não seria capaz de me envolver. Fiquei com a sensação de que talvez não valha a pena. Dinheiro é só dinheiro, vontade é só querer e esperança é o sonho. Na realidade, os desígnios de Deus é que contam. E a prova disso é que tenho uma avó com mais de 80 anos que sobreviveu a um cancro e a mais de 13 cirurgias, algumas delas muito complicadas, enquanto que o Ricardo, jovem e saudável, foi de repente, sem que nada o fizesse prever. O cancro apoderou-se dele e não deixou sequer que tentasse lutar. 
Não me entendam mal, não me arrependo minimamente de ter feito parte de um projecto tão maravilhoso, mas até que ponto vale a pena? Até que ponto se pode prevenir o que está escrito? Até que ponto podemos evitar o inevitável? Não será um pouco megalómano acreditar que podemos fazer a diferença? Somos grãos de areia no meio disto tudo. Pó ao vento. Nada. 

5 comentários:

Sofia disse...

Esse dinheiro há-de ajudar muita gente e salvá-la. Quanto ao lutar por uma cura... Acho que devemos ir sempre ao limite e fazer de tudo.. Vocês tiveram a melhor atitude. A vossa força, fez a diferença nos últimos dias do teu familiar. Foi em paz com o amor que lhe deram. Acho que disto podes fazer uma mensagem de encorajamento a todos. Há que lutar sempre sem pensar no resultado do desfecho final. A esperança é a última a morrer.

<3

Beijinhos

lena disse...

Temos de continuar a tentar por isso todo o esforço vale a pena.
Beijinhos grandes.

Marlene Matias disse...

Aninhas... valeu e vale sempre a pena! E se hoje eu te convidasse outra vez para algo do genero...tu aceitavas. Abraço apertadinho!

Paula Sofia Luz disse...

Foi quando prometemos "não parar até encontrar a cura". <3

Marlene Matias disse...

Nem mais Paula Sofia...prometemos nao parar.
Embora eu perceba a Ana, quando perdemos alguem que amamos nas circunstancias que foram...