quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ser simples.

Lana Del Rey
são aqueles instantes que numa breve reminiscência me trazem as Helenas das novelas de Manoel Carlos. aquelas mulheres sentem como todas sentimos alguma vez na vida. sabem o que são. sabem quem são, mesmo que os outros não reconheçam nelas a profundidade do ser. aquelas personagens construídas são o reflexo de múltiplas personalidades reais.
e enquanto conduzo o meu carro velho, esse companheiro que tanto estimo, levando o meu corpo até ao destino a que me dirijo sem vontade, a minha alma passeia por momentos antigos, de outras vidas, tantas vidas. a missiva recordara-me da grandeza do coração, de como não é necessário dizer sempre tudo o que se deseja. o telefonema, vindo de outro alguém que não me escreveu carta nenhuma, fez-me doer a certeza de tempo perdido. há quem me ame de uma maneira tão dedicada que é impossível não lamentar o amor que gastei em quem não merecia. pedi pouco e não recebi nada. como é possível que me tenha deixado ser tão pouco, eu que sou tanto e tão grande? o desespero torna-nos tão frágeis como um insecto chato, que matamos só para não ouvir o seu zumbido irritante. tão débeis que ansiamos o fim. esperamos por ele. e quando finalmente se termina o caso, percebo que só eu vivi o que vivi. quem estava ao meu lado não se apercebeu de nada.
cheguei onde tinha que chegar sem me lembrar do caminho que fiz até ali. debitei informação e voltei para casa, sem fazer o que tinha prometido fazer: agradecer. talvez mais tarde tenha coragem para ser simples.
agora é outra a questão que me incomoda: a da fatalidade. comecei o ano passado com a certeza de que iria desmistificar um dos meus medos e nos seus últimos dias, a Vida mostrou-me que não vale a pena não ter medo. quero tanto distrair-me disto que me embrenho na leitura de um novo livro. enquanto leio, não penso nem vivo.

4 comentários:

Adriana Alfaro disse...

ameii o texto!
me sinto assim tbm!
beijos!

Barbara Rebelo disse...

Adorei :)
Muito bom mesmo, dos melhores. Este vou guardar. kiss**

Colour my life disse...

Gostei imenso e revi-me em todas as frases. :(

Tamborim Zim disse...

Belíssimo Lamparina! E amei a referência às Helenas do meu diretor de novelas preferido, ele que é tb um cronista cheio de vida e estilo. Simplesmente.