quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Saudade do que não foi

Jessica Szohr
Quando inventei as saudades do futuro, a minha professora de Português disse-me que já antes de mim Fernando Pessoa tinha concebido tal expressão. Fiquei triste, confesso. Achei que tinha sido genial, mas o super Camões passou-me à frente. Nasceu antes de mim, por isso ganhou. Pura sorte.
Anos depois, senti as saudades do que não foi. Presumo que também outro espertinho das Letras já tenha usado o conceito. Aliás, aposto que Joaquim de Carvalho o imprimiu na sua problemática da saudade. Também ele nasceu antes de mim. Por isso ganhou.
Mas para lá da génese de um novo articular de palavras, está o sentimento em si. E é esse que me faz olhar para aquela cabine telefónica e lembrar tudo o que não foi. Em toda a minha vida, não me arrependi de nada. Nem do que numa primeira leitura pode ter sido erro, porque esses são justificados com argumentos simples, simples como a Vida: «não soube fazer melhor», «no momento não sabia ser melhor», «tudo acontece porque tem de acontecer». Só me arrependo do que não faço. E normalmente faço o que me dá na real gana, porque nunca quero fazer mal a ninguém. Também nunca quero fazer nada que prejudique o próximo. Geralmente, penso nas consequências dos meus actos, meço-as, como um sismógrafo feito de carne e osso. Na maioria das vezes, avanço. Mas aquela cabine telefónica lembrou-me de uma quase decisão que tomei, com todos os estudos inerentes realizados, riscos apurados e cálculo de danos estimado. Quase decisão porque não dependeu somente do meu querer. Quase decisão porque a sua energia ficou ali, quieta, parada na eternidade do que não chegou a ser. Como uma mensagem que se perde e não chega ao destinatário. Pairando no nada. Imortalizada num momento que não chegou a existir, que foi só vontade e intenção. E a saudade do que não foi ficará para sempre aqui. Cá dentro.

3 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

O "what if" é tramado. Espero que não seja um dos grandes...

Catarina Bernardo disse...

Gostei do teu blog querida, visita-me e se gostares da ideia segue-me e deixa um comentário para eu saber e seguir de volta! Beijoca, Catarina.

lena disse...

"Saudades do futuro" Achei uma expressão muito interessante e não conhecia ainda. Gostei muito.
Beijinhos grandes.