segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A vida é um sopro

Sienna Miller
Entro no facebook e ele pergunta-me, muito voluntarioso: "O que é que está a acontecer, Ana?". A pergunta, na qual nunca reparo, incomodou-me. Desta vez, irritou-me. Acabara de saber que dois primos tinham perdido o pai, tal como a Marta. E assim, num ápice, a minha família sofreu duas perdas. Roubaram-nos dois homens: um no dia de Natal, outro na passada sexta-feira. Não tenho medo da morte, da minha morte. Tenho medo do sofrimento causado pelas mortes dos outros. Não gosto desse sentimento de impotência que a fatalidade nos traz à tona.
E eu, que abomino publicar abertamente as minhas dores mais íntimas, as minhas preocupações mais ferozes, os mais prementes medos que me assolam os dias e as maiores felicidades com que sou agraciada, respondi-lhe num laivo de fúria. Respondi-lhe que não faço a mínima ideia do que está a acontecer. Que sou pequena demais para saber. Queria mesmo era mandá-lo à merda, ao facebook e à morte, que me deixassem em paz. A boa educação travou-me o ímpeto e não escrevi palavrões.
Assim que publiquei a frase no muro das lamentações, arrependi-me. Mas já era tarde demais para a ocultar. Já tinha recebido palavras de ânimo e achei que seria de um desrespeito feio apagar aquilo. Então deixei. Fechei o computador e fui tomar banho. Sou só eu que quando recebo notícias destas preciso de um banho?
Enrolada na toalha, sentei-me na cama e recordei aquele cliché que só é cliché por ser verdadeiro, que os clichés são isso mesmo: verdades batidas e banalizadas que nos manda perder tempo apenas com aquilo que vale a pena. Com aquilo que importa. Com aquilo que é importante. Porque a vida pode decidir ir-se embora de dentro das nossas pessoas, pode decidir abandonar o nosso corpo sem aviso. Por cada defeito, quero encontrar duas qualidades. Por cada crítica negativa, quero dar duas positivas e construtivas. Uma mensagem por dia a alguém de quem tenha saudades. Um amo-te sempre que apetecer. Ignorar o negativismo alheio e concentrar-me nas coisas boas da vida. Elogiar alguém. Ajudar alguém. Todos os dias apontar um acontecimento que me tenha feito sorrir, nem que seja ter visto um pardal a tropeçar numa pedra de calçada. Não custa tentar.

3 comentários:

S disse...

Viver é um grande privilégio devíamos estar agradecidos todos os dias :)
Bj S

Sofia disse...

Eu tenho muito medo da morte. Tenho medo de ser colhida no melhor momento, de poder NÃO vivê-lo... Tenho medo de perder os que amo. Tenho medo de viver sem eles ao pé de mim. A morte é a palavra que mais me assusta...Apesar de ser uma coisa certa.

Beijinho grande* Os teus anjinhos da guarda subiram ao céu e agora olham por ti e por tds da família.

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Ana Catarina disse...

A vida é mesmo curta e nós esquecemo-nos disso. Damos as coisas e as pessoas como garantidas! Chateámo-nos com coisas fúteis e insignificantes...
Devíamos dar valor ao que temos e às pessoas que nos rodeiam, todos os dias, a toda a hora!
Um beijo no <3, doce Lamparina!