domingo, 24 de junho de 2012

...desta água não beberei.

Florence Welch
Aquilo que afirmei que nunca faria, fiz. Tudo o que disse que não aconteceria comigo, aconteceu. Das mais insignificantes às grandes mudanças. 
Na minha educação, sempre foi valorizado o saber pensar por si, o desenvolver de um vincado espírito crítico e a desvalorização dos olhares alheios. Ser feliz. Não engolir as verdades dos outros só porque sim. Digeri-las, pensá-las, contestá-las. Saber que o correcto para mim pode não ser ajustado a outras vidas. Saber que a perspectiva muda toda a visão de um mesmo objecto. 
E agora, precisamente a um mês de completar mais um ano de passagem por cá, olhando para trás, vejo que todo o meu percurso (curto, mas intenso) tem sido veementemente marcado por esta conduta. Tenho sido fiel a mim mesma, talvez por isso não me custe dar o braço a torcer e experimentar fazer o que negava. 
Disse que nunca mais voltaria a viver em casa dos meus pais, depois da faculdade. Queria ir estagiar, trabalhar, ter um apartamentozinho só meu, mesmo que fosse um T0. Quis a vida que decidisse congelar os estudos e voltasse para o ninho. Quando planeamos, não pensamos nos imprevistos. Não me arrependo de ter parado, pelo contrário: estive sempre no sítio certo. Estávamos em 2009. E desde aí, tudo tem corrido de maneira diferente do que tinha sonhado: "Nunca na vida vou trabalhar num jornal regional" e aceitei o convite, gostei da experiência e ainda me dói a saída; "Isso nunca aconteceria na minha família" e dou por mim olhando à volta sem perceber o que raio nos aconteceu. 
Olhando para trás, vejo que fui muito feliz. Tão feliz. E não sabia. Era uma miúda croma, mas cheia de segurança. Não mudei muito desde o dia em que o avô António me deixou mexer na máquina de escrever e euescreviassimatéqueelemeexplicouqueateclagrandeserviapara colocar espaços entre as palavras. Não mudei muito desde o dia em que lia histórias à minha Vó antes de adormecer. Não mudei muito desde que ficava triste por só poder usar a maquilhagem da minha mãe na rua quando era Carnaval. Não mudei muito desde o dia em que pedi à Noémia, a senhora que trabalhava lá em casa e que era mais que ama ou empregada doméstica, para me fazer aquele bolo que só ela sabia fazer. Não mudei muito desde o dia em que ficava a ver os grandes a dançar. Fazíamos tantas festas, lá em casa. Não mudei muito desde que passava tardes a tirar fotografias à Mana Lamparina. Não mudei muito desde que chorava com pena do ano velho que o pai matava, na passagem de ano, com tiros para o ar. Não mudei muito desde que me comovi ao receber a minha bicicleta nova, depois da anterior me ter sido roubada novinha em folha. Não mudei muito, ainda que tenha crescido. 
Mudou o medo. Antes não tinha medo de nada nem de ninguém não estou a falar de fobias e ultimamente, ando apavorada. Tenho medo de não conseguir fazer tudo o que quero. Tenho medo de me enganar. Tenho medo de me esquecer de quem sou. Tenho medo de me perder por aqui, entre as coisas pequenas. Medo de falhar. Neste Verão, estarei a encerrar uma fase da minha vida. 
Depois, um livro em branco. E eu queria era começar a escrevê-lo já.

7 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Coragem! Conhecendo-te, não vão ser meia dúzia de mudanças armadas em papões que te vão intimidar.

AlexandraMiguel disse...

Adorei o post , muito bom mesmo :)
Beijinho xana**

Ana Catarina disse...

Nem sempre as coisas correm como nós planeamos, às vezes sai mesmo tudo ao contrário. Acredita, sei o que digo. No espaço de dois anos a minha vida deu uma volta de 360º graus, dizia que algumas coisas jamais me aconteceriam e praticamente aconteceu-me de tudo... mas ainda aqui estou, a lutar contra tudo e todos... e sei que contigo será igual! Não baixes os braços, não desistas, enfrenta as dificuldades de frente e vencerás, com toda a certeza!
Um abraço bem forte e um beijinho*

Filipa disse...

Sem dúvida que vais conseguir tudo!
"Pedras no caminho...apanho-as todas"...

Beijinhos
Filipa
www.welc-home.blogspot.pt

Fiona disse...

E como eu adoro ler-te... Maravilhosas palavras! Nem sempre é fácil viver (também ninguém nos disse que o seria). Mas és forte e dás a volta a tudo isso! Olhas para trás e as coisas não aconteceram como inicialmente esperavas? Se te sentires bem com a pessoa que és hoje e tiveres boas recordações dos momentos que já viveste, isso é que importa :)

Lima e Tequilla disse...

Crescer tem sempre coisas destas e os medos começam a ser cada vez maiores. Coragem =)

Paula Sofia Luz disse...

Sabes que à medida que o tempo passa consigo perceber porque é que gosto cada vez mais de ti. Nunca vou conseguir explicar-te como me sinto assim, também, mesmo a bater nos 40.
beijo, beijo