segunda-feira, 18 de junho de 2012

coisas fortes que já não me lembro de ter escrito

Jessica Stam
"E as mensagens são difusas, o que me dizes é confuso. Porque não dizes nada, na verdade. Se calhar até sou convencida para caramba e gosto de acreditar que falas comigo quando nem sou eu a visada dessas tuas parcas e nebulosas palavras. Cá dentro, sozinha, ouço os diálogos que nunca existiram, passo a pente fino o pouco que retive, numa incessante busca circular. Volto sempre ao mesmo sítio. Assim como as moscas no vidro, estás a ver? Não há saída possível e elas continuam ali, perdendo vida naquela ridícula sucessão de tentativas vãs para atravessar uma barreira que não as deixa seguir em frente. Batem, voltam a tentar, tentam uma e outra vez, sem que a fé ignorante lhes dê acesso à travessia. Poderia ter usado mil e uma metáforas diferentes para descrever a agonia em que tenho passado os meus dias, mas a melhor de todas era mesmo esta. Porque as moscas são burras, são pequenas, são feias e sentem-se bem no meio da trampa. São vidas sem valor, que podem dar-se ao luxo de gastar o precioso tempo da sua existência com coisas que não interessam a ninguém. E assim é esta parte gaja de mim. Burra, pequena, feia e que adora um bocadinho de trampa. Não nega viver um enredo sem nexo ou coerência e ainda valoriza uma estória insignificante e sem grandes laivos de beleza, cuja apoteose será apenas o (perdoa-me o calão) ficar na merda. Não sei quando vou conseguir parar de bater no vidro. Ninguém abre a janela para eu me ir embora daqui. Não sei que prazer podes ter em ver-me assim, desnorteada.
Toca, telefone. E não tocou.
E não foi por isso que ela esqueceu."


1 comentário:

Ana Catarina disse...

Obrigada Lamparina! do fundo do coração, pelas tuas palavras e pelo abraço apertado, que me aqueceu o coração! <3
Um beijinho*